Por que gostamos tanto do brinquedo chamado bicicleta ?
É uma pergunta que não tem resposta. Bom, resposta até que tem, mas tente responder para ver se acaba hoje.
Nessa tentativa de explicar o quanto gostamos, vejam o que nossa querida bicicleta é capaz de proporcionar numa pessoa que não tem as mãos. Este relato que vocês vão ler abaixo é algo que não tem explicação. Da mesma forma que é montar numa bike e sentir o prazer que é pedalar. O mesmo que Dani sentiu pela primeira vez.
Dê amor a sua vida. Se você reclama dela, pare, reflita e vá pedalar.
Meu nome é Daniel José Dias Auer. Nasci no dia 18 de junho de 1974 na cidade de Ponta Grossa-PR, que fica há 120 Km de Curitiba, capital do Estado do Paraná. Sou deficiente físico (não tenho as duas mãos) devido ao talidomida, (um medicamento criado em 1954 na Alemanha, comercializado no Brasil na década de 1970).
Este medicamento era receitado pelos médicos para evitar enjôos em gestantes, utilizado também como sedativo. Hoje o talidomida é indicado para o tratamento de doenças como AIDS, lupus; doenças degenerativas. Causando deformidade em várias crianças nascidas naquela época, o medicamento foi proibido no Brasil para mulheres em idade fértil e foi receitado pelo médico da minha mãe, em 1974.
Desde pequeno sou amante de esportes e principalmente ciclismo. Jamais fui tratado como coitadinho pela minha família, muito pelo contrário, eles sempre me incentivaram a realizar minhas próprias tarefas e com isso, aprendi a me virar sozinho e fazer de tudo sem depender dos outros - "claro que com certas dificulades".
Em todos os meus anivesários e Natal eu implorava para minha mãe pedindo uma bicicleta de presente. Devido a superproteção de mãe e pensando no meu bem estar, minha mãe com grande aperto no coração sempre procurou me distanciar deste sonho de criança, deixando frustrações até em meu irmão, sendo que, se ele ganhasse eu também teria direito, e a cada ano que se passava ela sempre encontrava uma boa desculpa para não me dar o tal presente. Enfim nunca me presenteou com uma bicicleta.
Porém na minha época de mulecagem, tempo em que eu morava em Osasco-SP, eu adorava ficar correndo ao lado dos meus amiguinhos que tinham bicicleta tentando sentir a emoção de como seria estar sentado sobre uma bike, pedalando e sentir o vento soprar em meu rosto. O tempo foi passando e aos meus 12 anos, um belo dia quando brincava pelas ruas e andando por toda parte encontrei uma bicicleta jogada em um terreno baldio. Ela estava bem velha, suja, enferrujada, sem pneus e com as rodas tortas, e o pior de tudo, sem freios.
Fiquei muito feliz, meu presente caiu do céu. Fui sorridente para casa empurrando a bike e meus amiguinhos tirando sarro de mim dizendo: "Você vai levar esse lixo para casa Daniel ?". Chegando em casa, minha mãe quase caiu de costas quando viu aquilo, somente sendo mãe para saber o que ela pensou naquele momento, para mim foi o que bastou para aprender a pedalar, lógico, depois de muita persistência e inúmeros tombos.
Hoje, aos 33 anos de idade, trabalho em uma Associação de Esportes para Deficientes, a APEDEF e foi com a força desse trabalho que consegui comprar a minha própria bicicleta, sendo que a mesma teve que ser adaptada as minhas necessidades. Não é uma bicicleta própria para viagens. Também tive que aprender a fazer manutenção na bike como por exemplo: regular marchas, freio, trocar pneus, etc... pois quando saio para fazer viagens pequenas sozinho em dias de treinos, acontecem imprevistos, dai tenho que me virar. Portanto levo na mochila minhas ferramentas para não ficar na estrada.
No dia 04 de outubro de 2007 realizei mais um grande sonho. Fiz uma viagem de 350Km com minha bicicleta, saindo de minha cidade Natal Ponta Grossa-PR, deixando minha mãe super preocupada. Fui a cidade de Itajaí-SC, onde todos os anos é realizado o Regional Sul Paradesportivo (jogos para pessoas portadoras de deficiência).
Concluí a viagem em quatro dias. Passei por Curitiba-PR, Campo Largo-PR, Joinvile-SC, Barra Velha-SC e finalmente Itajaí-SC. Chegando na cidade de destino, fui recebido pelo Prefeito e a banda da cidade. Concedi uma palestra para centenas de pessoas que ali estavam aguardando minha chegada, até ganhei uma bike de presente do Prefeito.
Essa viagem foi de grande importância, pois conseguiu transmitir uma energia boa por onde passava, juntando muitas pessoas para me conhecer e tirar fotos em restaurantes, postos de gasolina, lanchonetes etc. Eu sempre era arrodeado de curiosos que queriam ver a adptação da minha bicicleta. E até pediam para dar uma volta nela.
Com isso tudo, consegui transformar olhares de compaixão, em olhares de admiração. O projeto DANI foi bem destacado em jornais do Paraná e Santa Catarina. Hoje sou convidado a ministrar palestras de motivação em escolas, universidades, empresas etc... Sinto-me um herói ao perceber o carinho com que sou tratado em todos os lugares que freqüento, e principalmente pelas crianças, e em especial minha mãe. Percebi que ela ficou muito orgulhosa de mim, fazendo questão de contar da minha façanha para os meus parentes e amigos de longe quando ligavam ou visitavam minha casa.
Meu sonho não parou aqui, em 2008 minha mãe estava doente, e no meu retorno de Itajaí-SC fiz uma promessa de ir até o Santuario Nacional de Nossa Senhora de Aparecida-SP e rezar para que ela se recuperasse de sua doença. Mas infelizmente ela estava com câncer e faleceu no dia 19 de junho, um dia após o meu aniversário. Então minha promessa foi uma Homenagem para Valderez Dias Auer.
Percorri uma distância bem maior – 820Km. Essa viagem realizei em 10 dias na estrada, pedalando no calor de 40 graus e mais de 100km por dia. Cheguei até passar pelo centro de São Paulo-SP – uma dificuldade.
Saí de Ponta Grossa no dia 01 de outubro, chegando lá no dia 10 do mesmo mês. Agora estou me preparando para o meu terceiro projeto que que será subir a Serra do Rio Rastro em SC, com a altitude de quase 1500 metros, e 20 Km só de subidas. Este desafio vai acontecer em 2009, mas ainda não tem data definida. Essa será a minha próxima grande aventura.
Também quero chamar a atenção da população em geral para a prática de um esporte ou alguma outra atividade física, através de um exemplo de superação por parte de um para-atleta, com a intenção de desmistificar qualquer preconceito e mostrar que não existem barreiras quando se tem um objetivo.
:: Ajude Daniel Auer
Atualmente Daniel está sem bicicleta, pois seu quadro quebrou. O Pedal está a disposição para ajudá-lo de qualquer forma. Então, se você quiser doar qualquer peça, acessório ou até mesmo uma bicicleta (quadro), entre em contato conosco. Com certeza vamos fazer o máximo para que ele volte a sentir a sensação de pedalar e realizar mas um grande sonho - subir a Serra do Rio Rastro em SC.
Ajude-nos, não vamos deixar o pedal de Dani parar de girar!
FONTE: PEDAL.COM.BR